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Até os génios têm que trabalhar muito



Depois de dois anos em que a minha condição física se degradou bastante, decidi voltar ao ginásio. Estive quase dois meses em treinos simples e individual e acabei finalmente por participar na minha primeira aula de grupo.

Tudo a postos! Olho à volta para o grupo e sinto de imediato que não devia estar ali. Todos parecem muito mais em forma do que eu.

Demorou cerca de … 30 segundos a confirmar a minha impressão!


Poupo-vos aqui a uma descrição dolorosa de todos os detalhes embaraçosos. Direi apenas que durante 45 minutos passei por diferentes estados emocionais: humilhação, desânimo, gozo, esperança e felicidade. Da humilhação inicial quando me comparei com os outros e do desânimo de achar que não ia conseguir, passei para o gozo de poder fazer voltas um pouco mais curtas, caminhar em vez de correr, para a esperança quando pensava que na próxima semana seria mais fácil e a felicidade de ter terminado a aula sem desistir… apenas descansei mais vezes que os outros.


E se escola fosse mais como o ginásio?! E se na escola pudéssemos (de facto) ajustar o nível de exigência à “condição física”? Em vez de definirmos escalões de sucesso: Mal sucedido, Suficientemente Bem-sucedido, Bem-sucedido, Muito Bem-sucedido e Excelentemente Bem-sucedido.


Na escola estamos sempre a começar de novo. Quando estamos quase a chegar à esperança de pensar que para a semana será mais fácil, a semana muda e as matérias também e … voltamos ao início. Tal como me aconteceria no ginásio se na semana seguinte, em vez de repetir a aula de grupo, fosse experimentar karaté. Passaria novamente pelo ciclo humilhação e desânimo.


Sem tempo para dominar com mestria os conceitos, as práticas, as competências e os métodos de trabalho, na escola estamos sempre a começar uma coisa nova. E quando falhamos é por isso fácil atribuir à nossa capacidade – não sou suficientemente boa, capaz, inteligente!


As consequências de os alunos incorporarem este discurso vai muito além da destruição da auto-estima (como se isso só não bastasse).


Acerca deste assunto Carol S. Dweck distingue duas perspetivas: fixa ou de crescimento (fixed ou growth mindset). (Pode fazer o teste aqui). Uma perspetiva fixa sustenta que nascemos com um determinado nível de inteligência que se manterá ao longo do tempo e que será o principal recurso para a aprendizagem – “sou inteligente, então aprendo mais e melhor” ou pior ainda “aprendo mais e melhor, então sou inteligente”.


Uma perspetiva de crescimento está assente no esforço e no trabalho como recursos principais para a aprendizagem, ou seja, “eu posso aprender qualquer coisa se trabalhar mais para isso”. Há aqui um sentido de progressiva mestria.


Perfeito! Então quais são as consequências de reforçarmos uma ou outra perspetiva nos alunos?

Uma perspetiva fixa leva os alunos a evitar os desafios, a desistir facilmente, a ver o esforço como uma perda de tempo, a ignorar a crítica de outros, e a sentirem-se ameaçados com o sucesso dos outros.

Uma perspetiva de crescimento leva os alunos a abraçar desafios, a persistir face à adversidade, a ver o esforço como um caminho para o sucesso, a aprender quando recebem uma crítica e a sentirem-se inspirados com o sucesso dos outros.


Os ginásios funcionam porque estão assentes nesta perspetiva de crescimento. Eu não sou boa ou má atleta, eu posso é melhorar em função do meu trabalho e persistência. O ginásio dá-me esperança de poder fazer melhor e a felicidade de o ir conseguindo.


E se escola fosse mais como o ginásio?! É que como a própria Carol Dweck diz “Até os génios têm que trabalhar muito”.


PS: Ah! Se tem uma perspetiva fixa, não se preocupe. É possível mudar. :)

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